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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Estudo sobre a formação da Bíblia. Parte 4

Orígenes († 254 d.C.) – (segundo Eusébio de Cesaréia), lista do todos os livros do Novo Testamento, exceto as Cartas de Tiago e Judas, aos quais se refere em outra parte.

Eusébio Panfílio – (315 d.C.) Lista do todos os livros do Novo Testamento, relata porém que há contestação da parte de alguns a respeito das Cartas de Tiago, Judas, II Pedro, II e III João.

S. Atanássio († 337 d.C) - (315 d.C.) Lista do todos os livros do Novo Testamento. Fala da obra O Pastor de Hermas, como útil, mas não como canônico.

S. Cirilo de Jerusalém († 386 d.C) – (315 d.C.) Lista do todos os livros do Novo Testamento, exceto o Apocalipse de S. João, os livros contestados de que fala Eusébio já são neste tempo geralmente aceitos.

Concílio de Laodicéia – (364 d.C.) Lista do todos os livros do Novo Testamento, com exceção do Apocalipse.

Epifânio de Salamis – (370 d.C.) Lista do todos os livros do Novo Testamento.

Gregório Nazianzeno († 389 d.C.) – (375 d.C.) Lista do todos os livros do Novo Testamento, menos o Apocalipse.

Anfilóquio de Icônio – (380 d.C.) Lista do todos os livros do Novo Testamento, mas diz que a maioria exclui o Apocalipse.

Filástrio de Bréscia – (380 d.C.) Lista do todos os livros do Novo Testamento, menciona treze Cartas de S. Paulo e a Carta aos Hebreus, dizendo sobre a mesma, que alguns duvidam que seja de autoria de S. Paulo, diz também que outros negam que sejam de S. João o Evangelho e o Apocalipse.

Concílio de Catargo II – (397 d.C.) Foi um Concílio regional da Igreja, ao qual S.

Agostinho († 430 d.C.) assistiu, cita todos os livros do Novo Testamento, sendo as atas deste Concílio muito importantes pelo seu testemunho histórico.

S. Jerônimo († 420 d.C.) – (382 d.C.) Lista do todos os livros do Novo Testamento, diz que a Carta aos Hebreus é colocada por muitos fora dos escritos de S. Paulo.

Rufino de Aquiléia – (390 d.C.) Lista do todos os livros do Novo Testamento.

S. Agostinho († 430 d.C.) – Lista do todos os livros do Novo Testamento, refere-se à Carta aos Hebreus como sendo de S. Paulo.

S. João Crisóstomo († 407 d.C.) – Numa sinopse que lhe atribuem, enumera quatorze Cartas de S. Paulo, os quatro Evangelhos, os Atos dos Apóstolos e três Epístolas Católicas, omitindo o restante dos livros.



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OS MANUSCRITOS DO NOVO TESTAMENTO



Os mais antigos manuscritos dos textos do Novo Testamento eram escritos em papiro, um material frágil, que se estragava com o manuseio e que somente se conservava em condições excepcionais de um clima seco como o do Egito.

Existem pedaços dos Evangelhos e Epístolas em papiro, encontrados na grande quantidade de manuscritos do Egito. Foram encontrados fragmentos de Evangelho S. Mateus (Mat 1,1-9.12.14-20), do Evangelho de S. João (Joa 1,23-31.33-41; 20,11-17.19-25) pelos exploradores Grenfell e Hunt em Oxyrhynehus, a 120 milhas ao sul do Cairo, no Egito. O fragmento de Mateus está na Biblioteca da Universidade da Pensilvânia, o de João esta no Museu Britânico. Pelos mesmos exploradores também foram encontrados a Logia ou Palavras de Nosso Senhor, que muito provavelmente foi copiada no ano 200 d.C.

No século IV d.C. os papiros foram substituídos pelos pergaminhos, dando aos manuscritos uma maior durabilidade e permanência. A Conversão de Constantino ao Cristianismo, fez com que houvesse uma cuidadosa e brilhante produção de escritos cristãos. Os códice (“codex” alavra derivada de Caudex, é uma tabuinha geralmente coberta de cera, na qual se escrevia com um ponteiro de ferro, chamado stylus ) foram adotados no lugar dos rolos, e assim pela primeira vez, as escrituras do Novo Testamento, puderam ser convenientemente ajuntadas num único volume. Os códices eram reunidos por um cordel, que passava por orifícios feitos no alto dos exemplares à esquerda, ficando desse modo com forma de livro, ao contrário das volumina ou rolos. Todos os manuscritos que tivessem esta forma eram chamados de “códice,”como as tabuinhas eram muito usadas para fins jurídicos, chama-se código a um sistema de leis.

Eusébio († 339 d.C.) afirma em seu livro Vida de Constantino que o Imperador mandou fazer cinqüenta exemplares das Escrituras em pergaminho, para as Igrejas de sua nova capital. Dois desses exemplares talvez existam no Códice Vaticano B e no manuscrito Sinaítico.

Quando o pergaminho se tornou muito caro para o copista, as palavras eram muitas vezes lavadas e raspadas, para se escrever outra coisa, esse tipo de manuscrito era chamado de “codex rescriptus” ou “Palimpsesto,”do grego, “raspado de novo”. Algumas vezes acontecia que a raspadura não era completa, ou que a tinta do original se tornava tão estável que o velho escrito reaparecia. Temos como exemplo o Códice Ephraemi (C), sobre o qual falaremos a seguir.

Os manuscritos do Novo Testamento acham-se divididos em duas classes, a Uncial (provém de “uncia”, polegada em latim), escritas em letras maiúsculas, e a Cursiva, escritas em letras minúsculas.

Nos primeiros séculos o Novo Testamento estava dividido em três partes: os Evangelhos, as Epístolas e os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse. No século III d.C. os evangelhos foram divididos em duas espécies de “capítulos”: os maiores eram os resumos e os menores capítulos, estas divisões foram introduzidas por primitivamente por Amônio e por isso chamadas de divisões amonianas. No século IV d.C. já eram usadas nos Evangelhos, sendo adaptadas por Eusébio em suas “tábuas de referência”, conhecidos de “cânones de Eusébio”.

No ano de 459 d.C. Eutálio, diácono de Alexandria, publicou uma edição das Cartas de S. Paulo, divididas em “capítulos”, segundo as divisões amonianas, do mesmo modo, dividiu ele em 490 d.C. as Epístolas Católicas e os Atos dos Apóstolos. Ele próprio afirma que pôs acentos nos manuscritos, copiados por ele, costume que não se generalizou até o século VIII d.C.

A moderna divisão em capítulos é atribuída aos católicos cardeal Estevão Langton (†1228), no início do século XIII d.C. na Universidade de Paris, mais tarde no século XVI d.C. os mesmos capítulos foram divididos em versículos numerados por Sante Pagnine, para o Antigo Testamento (1528) e por Roberto Estevão, para o Novo Testamento (1551).



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São conhecidos aproximadamente 5.236 manuscritos29 do texto original em grego do Novo Testamento, sendo 266 códices unciais, 2.754 códices cursivos, 81 papiros e 2.135 lecionários, comprovadamente autênticos pelos mais renomados pesquisadores e especialistas do mundo.



OS PRINCIPAIS MANUSCRITOS UNCIAIS



São os principais códices que se conservaram, servindo para que se possa conhecer os nomes, as datas e o valor comparativo dos principais exemplares do texto sagrado. Segundo S. Agostinho em sua obra De doctrina Cristiana “O primeiro cuidado de quem quer entender a Divina Escritura deve ser o de corrigir os códices”.

  • (N) Alef – Sinaíticus (Aleph 01) – Foi descoberto no convento de Sta. Catarina, no monte Sinai em 1859, pertence ao século IV d.C. Contém o Antigo Testamento grego e todo Novo Testamento, além das Epístolas de Barnabé e uma parte do Pastor de Hermas. Está no Museu Britânico desde 1933.



  • (A) Alexandrinus (A02 Alexandrino) – Foi oferecido ao Rei Carlos I da Inglaterra, por Cirilo Lucar, o Patriarca de Constantinopla em 1627. Pertence ao século V d.C. Contém o Velho Testamento grego, e o Novo Testamento desde Mateus 25,6 havendo algumas falhas (João 6,50 - 8,1-52; II Coríntios 4,13 – 12,1-6), contém também a Primeira Epístola de Clemente de Roma, com uma pequena parte da segunda (uma homilia). Está no Museu Britânico.



  • (B) Vaticanus (B03 Vaticano) – Foi colocado na Livraria do Vaticano em Roma, pelo Papa Nicolau V (1447-1455). Pertence ao século IV d.C. Contém o Velho Testamento em Grego com omissões, e o Novo Testamento até Hebreus (Heb 9,14),contém as Epístolas Católicas mas faltam as Pastorais (I e II Timóteo e Tito), Filemon e o Apocalipse. Uma edição foi publicada em 1857 pelo cardeal Mai, por ordem do Papa Pio IX (1846-1878).



  • (C) Ephraemi (C04 Efrém rescrito) – É um palimpsesto (codex rescriptus), resultante de terem sido diversas obras de Ephraem da Síria copiadas sobre o texto original no século XII d.C. Felizmente a tinta do último copista era de menor duração e qualidade que a do primeiro, foi escrito no século V d.C. muito provavelmente no Egito. Contém fragmentos do Velho Testamento e todos os livros do Novo Testamento com grandes omissões, à exceção da II Tessalonicences e da II João. Está na Biblioteca Nacional de Paris.



  • (D) Bezae (D05 Beza) – É um manuscrito em grego e latim, em colunas paralelas, foi descoberto no mosteiro de S. Irineu em Lyão, e oferecido à universidade de Cambridge, em 1581 por Teodoro Beza. Foi escrito no princípio do século VI d.C. Contém com algumas omissões os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos. É notável pelos seus desvios do texto comum e pelas edições.



  • (D2) Cloromontanus (D06 Claromantano) – Foi descoberto em Clermont, próximo de Beauvais, donde lhe deriva seu nome. Foi escrito no século VI d.C. Está escrito em grego e latim como o códice Bezae, sendo um suplemento deste, pois contém as Cartas de S. Paulo com omissões, e a Carta aos Hebreus, sendo estes os únicos livros do Novo Testamento que se encontram. Pode-se perceber no manuscrito, o trabalho de vários copistas posteriores. Está na Biblioteca Nacional de Paris.





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29 Todos estes manuscritos, são fruto de copistas Católicos.



Esses seis códices descritos acima formam a lista dos unciais de primeira classe. Citaremos alguns que apesar de parciais e incompletos são de grande valor e oferecem sugestivas leituras e um bom estudo:



  • Codex Basiliensis (E) – Pertence ao século VII/VIII d.C. trazido provavelmente de Constantinopla para Basiléia pelo Cardeal J.B. Ragúsio em 1431. Contém os Evangelhos quase completos.
Codex Regius (L) - Pertence ao século VIII d.C., está na Biblioteca Nacional de Paris. Contém os Evangelhos com omissões, é valioso por se ver nele, a dupla conclusão do Evangelho de Marcos.
  • Codex Zacynthius – É um palimpsesto de Zanete, oferecido pelo general Macaulay à Sociedade Bíblica de Londres em 1821, onde se encontra guardado em sua biblioteca. Contém a maior parte do Evangelho de Lucas, com comentários.
  • Codex Augiensis - Pertence ao século IX d.C, existente no Trinity College, Cambridge (F), vindo do mosteiro de Augia Dives (Reichenau) no Lago de Constança. Contém a maior parte das Epístolas Paulinas, com a versão Latina.
  • Manuscrito da Biblioteca Bodleiana de Oxford (T ) - Digno de citação, por ser um manuscritos muito antigo com data explicita ( 844 d.C.).
  • Manuscrito Roma (S) – Existente na Biblioteca do Vaticano, também digno de citação, por ser um manuscritos muito antigo com data explicita ( 949 d.C.).



OS MANUSCRITOS CURSIVOS



Com o aumento da procura por manuscritos dos textos do Novo Testamento ao longo dos séculos, era necessário o emprego de uma forma de escrita com letra menor e mais fácil. Dessa forma foi introduzida a “letra corrente” ou cursiva que já era empregada nas correspondências sociais e comerciais. Durante quase dois séculos. Usou-se o uncial e o cursivo, mas pouco a pouco foi prevalecendo o cursivo. Foi com essa letra que nos chegaram a maioria dos manuscritos do Novo Testamento, que começaram a ser escritos de forma cursiva do século IX d.C. até a invenção da Imprensa no século XV d.C. Eram empregados, o papel e o pergaminho que variavam muito na duração e forma.



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OS PAPIROS

São antiqüíssimos testemunhos do texto original do Novo Testamento, com alguns remontando ao ano 200 d.C. Segundo o teólogo Felipe Aquino alguns eles estão distribuídos daseguinte forma:

30 CONTEÚDO LOCAL DATA(Século)

P1 Evangelhos Filadélfia III

P2 Evangelhos Florença VI

P3 Evangelhos Viena VI-VII

P4 Evangelhos Paris III

P5 Evangelhos Londres III

P6 Evangelhos Estrasburgo IV

P7 Atos dos Apóstolos Berlim IV

FONTE: Escola da Fé II – A Sagrada Escritura. Lorena - SP. 2000, p.38



OS LECIONÁRIOS



Os Lecionários são coleções dos Evangelhos e Epístolas, para a leitura nas celebrações da Igreja Católica, desde os primórdios do cristianismo. São escritos com especial cuidado, com caracteres grandes e claros. Não existe testemunho mais valioso dos textos Sagrados para a mesma época em que foram escritos nos Lecionários. Dos chamados Evangelistaria, que são lições dos Evangelhos, existem mais de mil exemplares. Dos Praxapostoli que são lições dos Atos dos Apóstolos e Epístolas, conhecem-se aproximadamente três mil exemplares. Todos estes Lecionários são de grande importância para o estudo do texto original das Sagradas Escrituras.

30 Sigla do Papiro (Exemplo: Papiro 1).

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sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Estudo sobre a formação da Bíblia - Parte 3


O texto da Vulgata foi composto em parte da antiga versão latina (Cinco
deuterocanônicos do Antigo Testamento: I e II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc, com a
carta de Jeremias), em parte na edição revista por S. Jerônimo (os Salmos, o Antigo e Novo
Testamentos) e è também uma nova tradução feita diretamente do hebraico (todo o Antigo
Testamento hebraico, exceto os Salmos, Tobias e Judite). S. Jerônimo estava familiarizado com
os exegetas hebraicos incorporando muitas das suas interpretações na vulgata, mas geralmente
seguia-se a versão dos LXX, mesmo quanto o texto diferia do hebraico. Com o passar do tempo,
o texto da Vulgata perdeu um pouco de sua pureza, devido às cópias e introduções de antigas
versões, porém nobres doutores revisaram o texto reconduzindo-o à primitiva integridade.
Citamos a revisão efetuada pelo sábio Alcuíno (735 – 808 d.C.), ordenada por Carlos Magno e a
de Lanfranc. Com o passar do tempo começaram a surgir novamente, textos de valor discutíveis,
principalmente após a “reforma protestante”. Assim sendo, a Sessão IV de 08 de abril de 1546,
do Concílio Ecumênico de Trento, após definir o Cânon das Sagradas Escrituras, decretou que a
Vulgata seria versão autêntica, e que fosse impressa com a máxima correção. Os Papas desde Pio
IV (1559 a 1565) até Clemente III (1592 a 1605) nomearam consecutivamente quatro comissões
para este fim, culminando na edição publicada em 1590 por Sixto V, (Papa de 1585 a 1590),
posteriormente substituída pela edição publicada em 1592 por Clemente VIII, (Papa de 1592 a
1605), edição conhecida como sixto –Clementina. Depois houve mais duas edições vaticanas em
1593 e 1598, as quais são a base de todas as versões posteriores até os dias atuais. O mais
importante e célebre manuscrito da vulgata é o Codex Amiatinus, do final do sétimo século, que
está em Florença, Itália, na biblioteca Laurentiana.

• Siríaca ou Versão Aramaica Ocidental:

1. A versão Peshita – Peshita significa “correta ou simples”, esta versão foi
feita diretamente do hebraico e concorda com rigor ao texto
massorético. Não se pode afirmar em que tempo e onde foi feita esta
tradução, presume-se que os cristãos da Síria, obtiveram a Escritura
em sua própria língua. Pelo exame da tradução acredita-se que os
tradutores eram judeus – cristãos que traduziram o Velho Testamento
do original hebraico. Esta versão continha todos os livros canônicos
do Velho e Novo Testamentos, exceto II carta de S. Pedro, II e III
carta de S. João, a carta de S. Judas e o Apocalipse de S. João. O texto
difere de das principais classes de manuscritos.

Diversas versões antigas:

1. A História Eclesiástica, de Eusébio de Cesaréia, coloca a versão da Etiópia
no ano de 330 d.C. O texto baseia-se totalmente na versão dos LXX e segue as
variantes do códice Alexandrino.

2. A maior parte o Velho Testamento, existe nos dialetos cópticos de Egito. A
época mais provável em que essas versões foram feitas são os séculos III ou IV
d.C. com algumas suposições que possam ser dos séculos I ou II d.C. São


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baseados na versão dos LXX, seguindo as variantes do códice Alexandrino, os
tradutores são desconhecidos.

3. A versão Gótica da Bíblia, foi feita por Ulfilas, bispo dos Ostrogodos, que
esteve no Concílio de Constantinopla I (maio a junho de 381 d.C.). É uma
tradução da versão dos LXX, de considerável valor crítico, embora se restem
alguns fragmentos desta versão.

4. A versão Armênia foi feita em meados do século V d.C., baseada na
versão Siríaca, mais tarde foi revista segundo a versão dos LXX, sendo traduzida
pelo patriarca Mesrob.

5. A versão Gregoriana foi feita no século VI d.C., através de cópias da
versão Armênia.

6. A versão Eslava ou Eslavônica foi feita em meados do século IX d.C.,
pelos irmãos católicos, Cirilo e Metódio de Tessalônica, missionários da Bulgária e
Moravia, que traduziram as Escrituras para a língua eslava (ou eslavônica).
Considera-se como proveniente da versão dos LXX embora alguns testemunhos
antigos indiquem que a tradução foi feita do latim.

7. As versões Árabes dos diversos livros das Escrituras, foram traduzidas
da versão dos LXX entre os séculos VIII e XII d.C, segundo diversos escritores,
porém os livros de Jó, Crônicas, Juízes, Rute, Samuel, e algumas partes de outros
livros, foram traduzidas da versão Siríaca Peshita.

A DEFINIÇÃO DO CÂNON DO NOVO TESTAMENTO

“O Espírito Santo, dado a Igreja, despertou santos instintos, auxiliou o discernimento entre o
puro e o espúrio, e assim foi possível chegar a uma gradual harmônica e por fim unânime
conclusão. Havia na Igreja o que um teólogo designou com felicidade pela expressão
“inspiração da seleção””. (História, Doutrina e Interpretação da Bíblia. São Paulo.1951,
p.29)


A formação do Cânon do Novo Testamento deu-se de forma gradual, de modo que
depois do ano 400 d.C. não existiam mais dúvidas a este respeito, graças a intervenção da Igreja
Católica, que como já citamos anteriormente, foi quem através do Espírito Santo e agindo de
acordo com sua autoridade apostólica definiu quais eram os livros canônicos.

A princípio os livros foram surgindo separadamente, em diferentes localidades, e eram
guardados cuidadosamente pelas diversas comunidades apostólicas (paróquias) e lidos nas
reuniões cristãs. Depois começaram a ser classificados em grupos: os Evangelhos, as Cartas
(Epístolas) de São Paulo, os Atos dos Apóstolos e as Cartas Católicas (Epístolas Gerais) a estes grupos, foi
acrescentado o Apocalipse, estando por volta do final do século II d.C. praticamente completa a
coleção. Porém a autenticidade de alguns livros ainda ficou em aberto por certo tempo.
Existiam na Igreja Primitiva (vide nota nº 5 e nº 20), muitos escritos que diziam tratar
da vida de Jesus. Segundo nos relata S. Lucas (cf. Luc 1,1-2) muitos escritores buscavam
reproduzir o primitivo Evangelho oral, visto que os primeiros Evangelhos só foram escritos de 20 a 30
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anos após a morte e ressurreição de Jesus Cristo, estes se conservaram oralmente até serem
escritos graças a assistência do Espírito Santo, atuando na Sagrada Tradição Apostólica da Igreja,
que se desenvolvia cada vez mais, expandindo-se e convertendo os povos ao Cristianismo.
Não demorou para que os quatro Evangelhos, fossem constituídos pela Tradição
Apostólica, sendo universalmente reconhecidos e pela Igreja. Os Evangelhos de S. Marcos e S.
Lucas foram escritos respectivamente sob a influência de S. Pedro e S. Paulo.

“Os Evangelhos de Marcos e de Lucas foram escritos por companheiros dos apóstolos:
Marcos, o convertido de Pedro (cf. I Ped 5,13), e Lucas o amigo íntimo de Paulo (cf. At
20,5-6, etc). Papias (130), Justino (falecido em 164), Irineu (180), e Orígenes, todos falam
do Evangelho de Marcos, como geralmente aceito, dizendo que tinha sido ditado e sancionado
por Pedro. Irineu, Tertuliano e Orígenes discorrem sobre o Evangelho de Lucas como sendo
universalmente recebidos e sancionados por Paulo”. (História, Doutrina e Interpretação da
Bíblia. São Paulo.1951, p.72)


Os Pais da Igreja Católica (S. Clemente de Roma, S. Policarpo de Esmirna, S. Inácio de
Antioquia, Hermas) citam os Evangelhos de tal maneira que indicam ser a autoridade dos
Evangelhos inteiramente reconhecida pela Igreja. Taciano (172 d.C.), discípulo de Justino
Mártir25, fez a combinação dos Evangelhos numa Harmonia chamada de Diatessaron, uma outra
Harmonia foi feita por Amônio de Alexandria, professor de Orígenes. S. Irineu que quando
jovem, conheceu S. Policarpo que foi discípulo do apóstolo S. João (evangelista), reconheceu a
santa quaternidade dos escritos, testificando a aceitação desses livros como inspirados por Deus.
S. Tertuliano da África, Atanásio de Alexandria, e Cirilo de Jerusalém confirmam ser os quatro
Evangelhos as verdadeiras narrativas evangélicas.
Aos Evangelhos foi acrescentado o Livro dos Atos dos Apóstolos por consenso geral,
como o segundo livro escrito por de Lucas.

“As fontes dos primeiros séculos confirmam a autenticidade do Novo Testamento. Vejamos
apenas uns poucos exemplos. Evangelho de Mateus - No ano 130 o Bispo Pápias, de
Hierápolis na Frígia, região da Ásia Menor, que foi uma das primeiras a ser evangelizada
pelos Apóstolos, fala do Evangelho de São Mateus dizendo: “Mateus, por sua parte, pôs em
ordem os dizeres na língua hebraica, e cada um depois os traduziu como pode” (Eusébio,
História da Igreja III, 39,16). Quem escreveu essas palavras foi o bispo Eusébio de Cesaréia
na Palestina, quando por volta do ano 300 escreveu a primeira história da Igreja. Ele dá o
testemunho histórico de Pápias. Note que Pápias nasceu no primeiro século, isto é, no tempo
dos próprios Apóstolos; S. João ainda era vivo. Portanto este testemunho é inequívoco.
Outro testemunho importante sobre o Evangelho de Mateus é dado por Santo Irineu (†200),
do segundo século. Ele foi discípulo do grande bispo S. Policarpo de Esmirna, que foi discípulo
de S. João evangelista. S. Irineu na sua obra contra os hereges gnósticos, fala do Evangelho de
Mateus, dizendo: “Mateus compôs o Evangelho para os hebreus na sua língua, enquanto
Pedro e Paulo em Roma pregavam o Evangelho e fundavam a Igreja.”(Adv. Haereses II,
1,1).
Evangelho de São Marcos - É também o Bispo de Hierápolis, Pápias (†130) que dá o
primeiro testemunho do Evangelho de Marcos, conforme escreve Eusébio: “Marcos, intérprete
de Pedro, escreveu com exatidão, mas sem ordem, tudo aquilo que recordava das palavras e
das ações do Senhor; não tinha ouvido nem seguido o Senhor, mas, mais tarde..., Pedro. Ora,
como Pedro ensinava, adaptando-se às várias necessidades dos ouvintes, sem se preocupar em
oferecer composição ordenada das sentenças do Senhor, Marcos não nos enganou escrevendo


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Nasceu em Naplusa, antiga Siquém em Israel, achou nos evangelhos “a única filosofia proveitosa”, era
filósofo e fundou uma escola em Roma. Dedicou a sua Apologia ao imperador Romano Antonino Pio em 150
d.C. defendendo os cristãos. Foi martirizado em Roma em 164 d.C. aproximadamente.



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conforme recordava; tinha somente esta preocupação, nada negligenciar do que tinha ouvido, e
nada dizer de falso” (Eusébio, História da Igreja, III, 39,15).
Evangelho de São Lucas - O Prólogo do Evangelho de S. Lucas, usado comumente no
século II, dava testemunho deste Evangelho, ao dizer: “Lucas foi sírio de Antioquia, de
profissão médica, discípulos dos apóstolos, mais tarde seguiu Paulo até a confissão (martírio)
deste, servindo irrepreensivelmente o Senhor. Nunca teve esposa nem filhos; com oitenta e
quatro anos morreu na Bitínia, cheio do Espírito Santo. Já tendo sido escritos os evangelhos de
Mateus, na Bitínia, e de Marcos, na Itália, impelido pelo Espírito Santo, redigiu este
Evangelho nas regiões da Acáia, dando a saber logo no início que os outros Evangelhos já
haviam sido escritos.”
Evangelho de São João – é Santo Ireneu (†202) que dá o seu testemunho:
“Enfim, João, o discípulo do Senhor, o mesmo que reclinou sobre o seu peito, publicou também
o Evangelho quando de sua estadia em Éfeso. Ora, todos esses homens legaram a seguinte
doutrina: ... Quem não lhes dá assentimento despreza os que tiveram parte com o Senhor,
despreza o próprio Senhor, despreza enfim o Pai; e assim se condena a si mesmo, pois resiste e
se opõe à sua salvação – e é o que fazem todos os hereges”. (Contra as heresias)” (Escola da
Fé II – A Sagrada Escritura. Lorena - SP. 2000, p.40-42)

As Cartas de S. Paulo gozam também, da mesma autoridade apostólica dos Evangelhos,
treze delas tem o seu nome, geralmente eram escritas através de alguém que a copiava para o
apóstolo, sendo uma testemunha legítima dos seus escritos, como no caso de Tércio, que redigiu
a carta aos Romanos (cf. Rom 16,22), nestes casos ele acrescentava a sua assinatura e saudação
(cf. I Cor 16,21; Col 4,18). Suas cartas eram enviadas por mensageiros particulares (cf. Rom 16,1;
Ef 6,21; Fil 2,25; Col 4,7-8). Sabemos pelos escritos dos Católicos S. Inácio, S. Policarpo, e S.
Clemente de Roma que as Cartas de S. Paulo eram consideradas como escrituras inspiradas e
lidas com a Lei, os Profetas e os Evangelhos. Uma prova mais remota aparece na II Carta de S.
Pedro (cf. II Ped 3,15-16) onde se da às Cartas de S. Paulo, o nome de Escrituras.
Uma carta de S. Clemente de Roma, do século I, dirigida a comunidade de Corinto,
identifica-se com o conteúdo da Carta aos Hebreus, que era admitida pelos antigos escritores da
escola Alexandrina entre os escritos inspirados do Novo Testamento, porém sobre o autor
pairava dúvidas, Eusébio de Cesaréia acreditava que a mesma tinha sido concebida por S. Paulo,
mas redigida por outro, ou escrita por S. Paulo em hebraico ou aramaico e traduzida por um
especialista em grego. Orígenes concluiu que “os pensamentos são do apóstolo (S. Paulo), mas que a
redigiu só Deus sabe”.
Quanto aos livros restantes referentes ao Novo Testamento, foram chamados de
antilegúmenos, ou seja, não admitidos por todos, sendo classificados também como
deuterocanônicos, visto que a sua canonicidade só foi atestada numa época posterior aos dos
outros livros do Novo Testamento acima citados. Estes livros foram sendo introduzidos no
Cânon pouco a pouco, de modo que no princípio do século IV, toda a Igreja Católica já os
reconhecia como inspirados por Deus.
Houve dúvidas se os escritos de Tiago26, Pedro27 João e Judas28 teriam sido escritos por
eles, visto que muitas composições falsas surgiam com os nomes dos apóstolos, como pode ser
observado pelo ensino apostólico (cf. II Tess 2,1-2; I Joa 4,1).

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Foi o primeiro Bispo de Jerusalém depois da dispersão dos Apóstolos, é o autor da Epístola Católica que leva o
seu nome. Foi morto no Templo por instigação do Sumo Sacerdote Anás II, sendo lançado de uma galeria e
espancado até a morte em 62 d.C.
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Sobre a I Pedro: O autor da epístola é sem dúvida, S. Pedro, o príncipes dos Apóstolos, que então se
encontrava em Roma e daí (cf. I Ped 5,13) escreveu aos longínquos fiéis da Ásia, embora não tenham sido
convertidos por ele (cf. II Ped 3,2), servindo-se de Silvano (cf. I Ped 5,12), como escrivão, e talvez como
redator da epístola, notável não só pela força do pensamento, como também por que exarada em excelente
grego. Desde que se formou o cânon escriturístico do Novo Testamento, a presente epístola foi incluída nele.
Sobre a II Pedro: Nos séculos II e III, a II Pedro era pouco conhecida, ao menos fora do Egito, e a sua
canonicidade, ou caráter sagrado, era posto em dúvida, quando não negada. Mas no século IV passou a ser


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“Ao lado do grande epistolário paulino, outras sete epístolas de apóstolos (uma de Tiago, duas
de Pedro, três de João e uma de Judas) constituem grupo à parte no cânon do Novo
testamento. Desde os primeiros séculos foram denominadas tanto em grupo como
individualmente, católicas, isto é, “universais”... Entre os latinos, foram também chamadas
epístolas “canônicas”, talvez como protesto da fé no seu caráter de livros sagrados, que a maior
parte delas foi reconhecido em era muito tardia. De fato, somente a primeira de Pedro e a
primeira de João foram, desde o princípio, consideradas sem contestações nas Igrejas, como
inspirados e, portanto, canônicas. Todas as outras, umas mais outras menos, encontraram
oposição em diversos tempos e lugares (Eusébio. Ecles., III, 25, 1-3). No Ocidente, o grupo
encontra-se já constituído em sua integridade e autoridade canônica, no princípio do século IV
(Concílio Plenário da África; Papa Inocêncio I, 405). Nas Igrejas orientais não antes dos
séculos VI e VII”. (Bíblia Sagrada. São Paulo. 1982, p.1318)


OS PRIMEIROS CATÁLOGOS DO NOVO TESTAMENTO

Do ano 200 d.C. ao ano 400 d.C. graças aos Católicos, publicaram-se aproximadamente
quinze ou dezesseis catálogos de livros do Novo Testamento, vejamos alguns:
  • O Fragmento Muratoriano ou Cânon de Muratori – É o mais antigo documento
sobre o Cânon do Novo Testamento, escrito por volta do ano 150 d.C. Uma
cópia do original, datada do século VIII, foi descoberta pelo padre Italiano
Ludovico Antônio Muratori em 1740 na Livraria Ambrosiana, em Milão. Fala
do Papa Pio I, (bispo de Roma de 143 a 155 d.C.) irmão de Hermas, como se
fosse contemporâneo. O fragmento traduzido do grego principia por Lucas
como “terceiro Evangelho”, subentendendo os outros dois e cita todos os
livros do Novo Testamento, com exceção das cartas: Hebreus, Tiago, I e II
Pedro e II e III de João. Pelo manuscrito pode-se distinguir os livros que eram
lidos publicamente na Igreja, os que algumas pessoas queriam que fossem lidos,
os desprezados e os que eram lidos particularmente. (cf. Anexo I ).

  • S. Clemente de Alexandria († 215 d.C.) – (segundo Eusébio de Cesaréia) No
princípio do século III, faz a distinção entre “o Ecvangelho” e “o Apóstolo”,
reconhece quatorze Cartas de S. Paulo, inclusive “Hebreus”, omite as Cartas de
Tiago, II Pedro e III João.

bem mais conhecida no Ocidente e, simultaneamente, foram-se desvanecendo as dúvidas a respeito do seu
valor de livro sagrado. Entre o IV e V século ocupou um lugar definitivo no cânon das Igrejas da Europa e da
África, enquanto que na Síria continuou a ser ignorada por mais alguns séculos. O mesmo não se deu com o
reconhecimento da sua autenticidade...S. Pedro é verdadeiramente o seu autor. S.Jerônimo não registrava
senão os fatos quando afirmava, que no ano 392, que Pedro “escreveu duas epístolas denominadas católicas, a
segunda das quais muitos afirmam não ser de sua autoria, por que (foi) lavrada em estilo diferente da primeira
(De viris III.c.1). Partilhando da opinião de que ambas eram genuínas, ele (S.Jerônimo) explica as diversidades
de linguagem e de estilo pelo fato de S. Pedro ter ditado a dois tradutores ou redatores gregos diversos (Carta
120, a Edibia,c.9)
28
Esta curta epístola encontrava-se já no século II, segundo o testemunho do cânon Mutratoriano, incluída no
cânon escriturístico da Igreja de Roma. Não faltou já então, e mais ainda depois, quem pusesse em duvida ou
negasse principalmente sua canonicidade como atesta S. Jerônimo (De Vir. Ill., IV), por causa da citação do
livro apócrifo de Henoque (cf. v.14-15). Prevaleceu, porém o uso antigo e a autoridade da Igreja, segundo
testemunho do mesmo S. Jerônimo, e bem cedo as oposições cessaram no Ocidente e mais tarde também no
Oriente.

15



Estudo sobre a formação da Bíblia. Parte 2

Apócrifos referentes ao Novo Testamento rejeitados pela Igreja Católica:
1. Evangelho segundo os Hebreus (gnóstico) – Fim do Séc I d.C.
2. Proto – Evangelho de Tiago.
3. Evangelho do Pseudo Tomé.
4. O Evangelho de Pedro – Meados do Séc II d.C.
5. O Evangelho de Nicodemos.
6. O Evangelho dos Ebionitas ou dos Doze Apóstolos – Meados do Séc II d.C.
7. Evangelho segundo os Egípcios – Meados do Séc II d.C.
8. Evangelho de André – Séc II/III d.C.
9. Evangelho de Felipe – Séc II/III d.C.
10. Evangelho de Bartolomeu – Séc II/III d.C.
11. Evangelho de Barnabé – Séc II/III d.C.
12. O drama de Pilatos.
13. A morte e assunção de Maria.
14. A Paixão de Jesus.
15. Descida de Jesus aos Infernos.
16. Declaração de José de Arimatéia.
17. História de José o garimpeiro.
18. Atos de Pedro.
19. Atos de Paulo.
20. Atos de André.
21. Atos de João.
22. Atos de Tomé.
23. Atos de Felipe.
24. Atos de Tadeu.
25. Epístola de Barnabé.
26. III Epístola aos Coríntios – Séc. II d.C.
27. Epistola aos Loadicenses – Fim do Séc. II d.C.
28. Carta dos Apóstolos – 180 d.C.
29. Correspondência entre Sêneca e São Paulo – Séc. IV d.C.
30. Apocalipse de Pedro – Meados do Séc. II d.C.
31. Apocalipse de Paulo – 380 d.C.
32. Sibila Cristã – Séc. III d.C.
Também em relação ao Antigo Testamento a Igreja Católica, rejeitou diversos livros
como apócrifos, utilizando-se mais uma vez de sua autoridade para a delimitação do Cânon
Bíblico.
Apócrifos referentes ao Antigo Testamento rejeitados pela Igreja Católica:
1. A vida de Adão e Eva.
2. I Henoque.
3. II Henoque.
4. Apocalipse de Abraão.
5. Testamento de Abraão.
6. Testamento de Isaac.
7. Testamento de Jacó.
8. Escada de Jacó.
9. José e Asenet.
10. Testamento dos Doze Patriarcas.
6

11. Assunção de Moisés.18
12. Testamento de Jô.
13. Salmos de Salomão.
14. Odes de Salomão.
15. Testamento de Salomão.
16. Apocalipse de Elias.
17. Ascensão de Isaías.
18. Paralipômenos de Jeremias.
19. Apocalipse Siríaco de Baruc.
20. Apocalipse de Sofonias.
21. Apocalipse de Esdras.
22. Apocalipse de Sedrac.
23. III Esdras.
24. IV Esdras.
25. Sibilinos.
26. Pseudo-Filemon.
27. III Macabeus.
28. IV Macabeus.
29. Salmos 151-155.
30. Oração de Manasses.
31. Carta de Aristeu.
32. As Dezoito Bênçãos.
33. Ahigar.
34. Vida dos Profetas.
35. Recabitas.
Relação de citações implícitas dos livros deuterocanônicos nos escritos do Novo
Testamento:

18
Na Epístola de S. Judas (canônica), há uma alusão deste apócrifo, citando uma antiga tradição hebraica – A
ascensão de Moisés.(cf. Judas v.9).E uma citação do apócrifo de Henoque (cf. Judas v. 14-15).



7

VERSÕES DO VELHO TESTAMENTO

• Pré – Massorético e Massorético – É um trabalho que surge do fim do primeiro
século em diante, transmitindo o texto hebraico livre de corrupção. O texto do
Velho Testamento fixou-se pela tradição, e a versão massorética trazia as
variantes anotadas na margem. O hebraico era escrito sem o uso das vogais até
o século VII. Entre os séculos VII a X os doutores judeus colocaram as vogais
no texto.
• Semíticas:
1. Em primeiro lugar se coloca os Targuns, devido a utilizar linguagem que mais se
aproxima do original hebraico. Após a volta dos Judeus do cativeiro da Babilônia,
em grande parte haviam perdido o uso da própria língua, sendo-lhes necessário não
só ler ás escrituras no original como dar-lhe a verdadeira significação. Dessa forma
era feita a tradução parafraseada numa série de targuns (interpretações) na língua
caldéica ou no dialeto oriental aramaico. Os targuns eram numerosos e os que
chegaram até nos eram da era cristã. Os mais antigos são os da Lei e dois referentes
ao Pentateuco anteriores ao sétimo século.
2. O Pentateuco Samaritano - Foi escrito num dialeto da família hebraica, utilizando
caracteres do antigo hebraico. Eusébio de Cesaréia e Cirilo de Jerusalém fazem
referencias a cópias deste manuscrito. Por muito tempo pensou-se que tudo
havia sido perdido, mas no princípio do século XVII foi enviada uma cópia de
Constantinopla a Paris. O valor dessa obra chegou a ser superestimado, mas já
não se julga superior ao texto hebraico. A cópia samaritana é valorosa para a
determinação da história das vogais hebraicas.
• Versões Gregas:
1. A septuagentina – A versão chamada dos LXX (setenta) ou Septuagentina ou ainda
Alexandrina, foi feita no Egito por judeus de Alexandria. Aristeas, um escritor da
Corte de Ptolomeu Filadelfo19 II (285-247 a.C.) conta em uma pseudocarta, que
esta versão foi feita por setenta e dois judeus (seis de cada tribo) mandados a
Alexandria no ano de 285 a.C. por Eleazer a pedido de Demétrio Falário, o
bibliotecário do rei e completada em setenta e dois dias. Não se pode precisar
que se tenha ocorrido verdadeiramente dessa maneira que a história nos chega.
Quanto ao tempo em que se completou, não existe prova alguma. Uma análise
crítica da obra mostra que esta contém muitas palavras greco-egípcias, e que o
Pentateuco está traduzido com maior exatidão do que os outros livros.
19
Rei egípcio de Alexandria no século II a.C, que se orgulhava de possuir em sua rica biblioteca todos os outros livros.


8


2. A Hexapla de Orígenes – Na primitiva Igreja Cristã20 a versão dos LXX era de
grande estima, embora certos escritores buscassem o texto hebraico para
confirmar seu texto. No intuito de corrigi-la, Orígenes (185-254), um dos
grandes teólogos da Igreja Católica do século III, compôs a sua Hexapla ou
Versão das seis colunas (em meados de 228 d.C.). Esta versão continha além da
Versão dos LXX, as traduções gregas do Antigo Testamento feitas por: Áquila
do Ponto (130 d.C.); Teodoto de Éfeso (160 d.C.) e Símaco um samaritano (218
d.C.). As duas colunas restantes continham o texto hebraico e a sua tradução
em caracteres gregos. Esta obra era constituída de cinqüenta volumes e perdeu-
se provavelmente no saque de Cesaréia, feito pelos sarracenos em 653 d.C.
Eusébio21 de Cesaréia (260-339) havia copiado a coluna formada pelo texto da
versão dos LXX, com as correções ou adições dos outros tradutores aos quais
Orígenes havia recorrido. O texto hexaplariano como é conhecido, foi publicado
em Paris no ano de 1714. Os principais códices manuscritos dos LXX são: o
Vaticano (B); o Sianaítico; o Alexandrino (A) e os fragmentos do Códice
Efraimita (C). Entre as edições impressas dos LXX, pode-se citar a
Complutensiana (1517), que segue em muitos trechos a versão hebraica
massorética e a Hexapla de Orígenes; a Aldina (1518), que apresenta muitas
variantes do Códice do Vaticano (B); a Romana ou Vaticana (1587) baseada no
Códice do Vaticano (B); a Grabiana (1707 a 1720) que foi baseada
principalmente no Códice Alexandrino (A) e a edição crítica de Cambridge (1887
– 1894).
• Antigas Versões Latinas :
1. Latina – Entre as mais antigas versões baseadas nas versões dos LXX, temos a
Latina feita na África, e muitas vezes transcritas total ou parcialmente em várias
províncias do Império Romano. Pelas diferenças que se encontram nas cópias,
alguns acreditam que houveram diversas versões, porém a hipótese mais aceita é
que se trata da revisões da mesma tradução original.
2. Ítala – A mais importante das revisões da Latina fez-se na Itália, com o fim de
corrigir os provincianismos e outros pequenos defeitos da versão africana.
Santo Agostinho refere-se a ela em seu escrito De Doctrina Cristiana II,
chamando-a de Ítala. São Jerônimo22 a considera em geral muito boa. Em seu
texto predomina traços do Códice Alexandrino (A) e baseando-se em citações
20
Quando se diz Primitiva Igreja Cristã ou Igreja Primitiva, entenda-se a única Igreja Cristã existente na
época: Católica Apostólica (vide nota de rodapé nº 5). “As primeiras Igrejas surgiram como comunidades
fundadas pelos apóstolos (54 d.C.). Do núcleo fundado por Pedro em Roma, originou-se todo o cristianismo no
Ocidente, que posteriormente foi dividido em arquidioceses, dioceses e províncias eclesiásticas, em comunhão
com a Sé Romana, a partir de 70 d.C.” (Revista: Superinteressante. Ed.181, pg.22-23).
21
Bispo Católico de Cesaréia na Palestina. Por volta do ano 300 d.C. escreveu a primeira História da Igreja.
Nasceu na Palestina, em Cesaréia, foi discípulo de Orígenes (184-254). Escreveu sua Crônica, A História
Eclesiástica, A preparação e a Demonstração Evangélicas. Foi perseguido pelo imperador romano Dioclesiano.
22
Viveu de 347 a 420 d.C, é considerado “Doutor Bíblico”. Em 379 d.C. ordenou-se sacerdote pelo Bispo
Paulino de Antioquia. De 382 a 385 d.C. foi secretário do Papa S. Damaso, por cuja ordem vez a revisão latina
da Bíblia, conhecida como Vulgata, levando aproximadamente 34 anos para terminar. Em S. Jerônimo destaca-
se a austeridade, o temperamento forte, a erudição e o amor à Igreja e a Sé de Pedro.


9


de Tertuliano,23 presume-se que a versão seja do final do segundo século (Séc. II
d.C.).
3. Vulgata – Devido a diversidade de cópias e as suas imperfeições, a pedido do Papa
(de 366 a 384 d.C.) S. Dâmaso, S. Jerônimo foi incumbido da tarefa de fazer a
revisão dos textos das cópias latinas, como Orígenes havia feito a revisão da
Septuagentina. Utilizou para isso a Hexapla de Orígenes, para corrigir todo o
Velho Testamento. Quando estava prestes a terminar esta correção, S. Jerônimo
decidiu fazer uma tradução em latim, feita diretamente do Hebraico. Consagrou
o melhor do seu tempo a esta obra, completando-a em 404 d.C.
aproximadamente.


“Entre os tradutores antigos da Bíblia, S. Jerônimo foi o último no tempo, embora o primeiro
no mérito: não só por se ter podido valer do trabalho dos seus antecessores, mas sobretudo
porque, pela prática constante, adquiriu domínio tal das línguas bíblicas (hebraico, aramaico e
grego) que entre os antigos cristãos não se conhece igual. Acrescente-se um conhecimento
igualmente único da literatura exegética tanto judaica, quanto cristã. Com bagagem de cultura
literária incomum, com ótima preparação e excelentes critérios, pôs mãos ao árduo trabalho.
Começou por corrigir (em Roma em 384 a convite do Papa S. Dâmaso) os Evangelhos
Latinos, auxiliado para isso pelos melhores códices gregos. Transferindo-se depois para a
Palestina (386)... estendeu o mesmo trabalho de paciente revisão... aos livros do Antigo
Testamento; mas tendo terminado uma parte deles, sobretudo os Salmos, que passaram depois
a Vulgata, compreendeu que prestaria um serviço muito melhor à Igreja, fazendo uma nova
versão diretamente do texto hebraico. E sem esmorecer diante das ingentes dificuldades, e sem
se cansar no longo e áspero caminho, a ela se dedicou com admirável constância pelo espaço de
uns quinze anos, de 390 a 404, até o acabamento feliz da obra”. (Bíblia Sagrada. São
Paulo. 1982, p.13)


Uma reverencia supersticiosa à versão dos LXX, fez com que muitos não aceitassem a
obra de S. Jerônimo, mas a tradução foi conquistando espaço e ganhando destaque, e no tempo
de Gregório (o Grande), Papa de 690 a 604, já tinha igual autoridade e foi dignificada com o
nome de Vulgata (“versio Vulgata”; a versão corrente).


As traduções de S. Jerônimo não encontraram imediatamente no mundo latino a acolhida que
mereciam. A propagação devida em parte às dificuldades da época, foi lenta, mas em constante
progresso, de sorte que dois séculos depois S. Isidoro de Sevilha24 (636) pôde escrever que ela já
estava em uso em toda a Igreja do Ocidente, e mais tarde o renascimento carolíngio consagrou-
lhe definitivamente o triunfo sobre as antigas versões latinas. Formou-se assim entre o séc. V e
IX, a versão que propriamente é chamada Vulgata. (Bíblia Sagrada. São Paulo. 1982,
p.13-14)


23
Tertuliano (220d.C.) de Catargo, norte da África, era advogado em Roma quando em 195 d.C converteu-se
ao Cristianismo passando a servir à Igreja de Catargo como catequista. Combateu as heresias do gnosticismo,
mas se desentendeu com a Igreja. É autor da frase: “o sangue dos mártires é semente de novos cristãos.”
24
Viveu de 560 a 636 d.C. foi Bispo e Doutor da Igreja. Nasceu em Sevilha, foi educado por seu irmão São
Leandro, bispo de Sevilha. É chamado também o último Padre da Igreja do Ocidente. A sua obra Etimologias,
composta de 20 volumes, é uma síntese de todo saber antigo e de seu tempo.


10


Estudo sobre a formação da Bíblia.

Amigos,

Veremos abaixo um bom estudo sobre a formação da Bíblia. Com esse estudo podemos tirar todas as dúvidas a respeito dos livros e das versões Bíblicas.
Este estudo foi desenvolvido por Leandro Martins de Jesus, Dicente de Pedagogia na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Estudante de História da
Igreja pela Escola Mater Ecclesiae e de Teologia para Leigos pelo Vicariato S. João da Diocese de Vitória da Conquista – Ba. É paroquiano da Igreja Nossa Senhora das Graças em Itapetinga-Ba.

Neste blog ele será dividido em 6 postagens. Bons estudos.

A FORMAÇÃO DA BÍBLIA AO LONGO DOS SÉCULOS E A IMPORTANTE
PARTICIPAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA NESTE PROCESSO.
1º Parte
Por: Leandro Martins de Jesus1

INTRODUÇÃO

A História da Bíblia Sagrada é muito longa, pois abarca um período que compreende
nada menos que 15 séculos, iniciando-se no tempo anterior a Moisés, por volta do ano 1200 a.C.
(antes de Cristo), chegando até o final do primeiro século após o nascimento de Jesus Cristo
(século I d.C. – depois de Cristo.). Observa-se que é um grande lapso de tempo e muitos foram
os acontecimentos que sucederam - se para a formação da Palavra de Deus que temos hoje em
mãos.
A palavra Bíblia, vem do latim vulgar Bíblia, que por sua vez vem do grego βιβλια que
não é singular mas plural de “livro” (em grego: livros). Uma vez que o plural grego de Bíblia foi
adotado em latim, sua forma gramatical tanto pode ser um plural neutro, como um singular
feminino.
A Bíblia é em síntese um conjunto de livros canônicos que concentram em si uma certa
unidade, descrevendo a Revelação Divina. Ela também é denominada como: As Sagradas
Escrituras.
A Bíblia divide-se em duas partes principais: O Velho Testamento e o Novo
Testamento. Este termo Testamento refere-se ao contexto principal dos diversos livros da
Escritura. O Antigo Testamento liga-se à idéia do pacto entre Deus e o homem, iniciado com
Noé, repetido com Abraão, renovado em Israel, com a libertação do Egito e o simbolismo da
Arca da Aliança. Já o Novo Testamento surge da predição do profeta Jeremias (c.f. Jer 31,31-34)
que o autor da carta aos Hebreus declara realizar-se em Jesus Cristo (c.f. Heb 8,6-13;10,15-17). O
termo “Novo Testamento” foi dito por Cristo na última ceia (c.f. Luc 22,20), e reivindicado por
São Paulo como parte do seu ministério (cf. I Cor 11,25; II Cor 3,6).
Com o passar do tempo o termo Antigo Testamento ficou designando as Escrituras
Judaicas (cf. II Cor 3,14), e o Novo Testamento, os novos escritos (primeiros escritos
apostólicos) que começavam a surgir. O termo hebraico berith que significa aliança, foi traduzido
no Velho Testamento grego,por uma palavra grega (διαθη×κη) que possui uma dupla
significação (1º - disposição, vontade ou testamento; 2º - aliança ou pacto.). O texto da Vulgata
Latina traz escrito Novum Testamentum, de onde vem a tradução atual de Novo Testamento,
conservando-se apenas um dos sentidos da tradução grega da palavra hebraica.

“Como os Evangelhos e os outros escritos apostólicos foram sendo pouco a pouco considerados
como escritura, foi mister distingui-los pelo nome de “O Novo Testamento”, expressão que
começou a empregar-se no princípio do terceiro século, quando Orígenes2 fala das “Divinas
Escrituras”, que são o Velho e Novo Testamento”. (História, Doutrina e Interpretação da
Bíblia.3São Paulo.1951, p.3)

1
Discente de Pedagogia na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Estudante de História da
Igreja pela Escola Mater Ecclesiae e de Teologia para Leigos pelo Vicariato S. João da Diocese de Vitória da
Conquista – Ba. É paroquiano da Igreja Nossa Senhora das Graças em Itapetinga-Ba.
2
Foi um dos Pais Apostólicos da Igreja Católica. Mestre de famosa Escola de Teologia em Alexandria (Egito) no
séc. III. Nasceu em 184 e morreu em 254 d.C. em Cesaréia na Palestina, durante a perseguição do imperador
romano Décio.
3
Livro de autor Protestante, Doutor em teologia


1


COMO E QUEM DEFINIU QUAIS SERIAM OS LIVROS DA BÍBLIA

“Quanto ao Antigo Testamento, temos três idiomas originais. A maior parte foi escrita e
chegou até nós em língua hebraica. Alguns capítulos dos livros de Esdras e Daniel, e um
versículo de Jeremias estão em aramaico, que foi o idioma falado na Palestina depois do exílio
babilônico (séc. VI a.C.). Dois livros, o segundo dos Macabeus e a Sabedoria, foram escritos
originalmente em grego. Dos livros de Judite, Tobias, Baruc e Eclesiástico, e parte também de
Daniel e Ester, perdeu-se como no caso do Evangelho de Mateus, o texto original hebraico ou
aramaico, sendo substituído pela versão grega. Essas diferenças lingüísticas não deixavam de
exercer a sua influência sobre a extensão do cânon dos livros sagrados. Enquanto os Judeus
disseminados no mundo greco – romano não tinham dificuldade em introduzir os livros
redigidos em grego, os judeus da palestina não queriam conformar-se com isso.”(Bíblia
Sagrada.São Paulo.1982, p.8)



O Antigo Testamento nos foi legado pelos Hebreus, tínhamos no início do Cristianismo,
duas versões, uma Palestina (Cânon restrito) composta por 39 livros que foram escritos na Terra
Santa, em hebraico, divididos em: A lei (Torá), Os profetas e os Escritos (Hagiógrafa) e uma
Alexandrina (Cânon completo), composta de 46 livros, que é uma tradução grega, da versão
Palestina, feita na cidade de Alexandria entre 250 a.C e 100 a.C, através de setenta sábios judeus
(ou setenta e dois, segundo tradições), fato este que originou o termo versão dos Setenta (LXX)
ou Alexandrina. Os sete livros que só figuram na versão dos Setenta ou Alexandrina são: Tobias,
Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico ou Sirácida, I e II Macabeus, além dos fragmentos de Ester 10,4-16,
24, Daniel 3,24-20; e os capítulos 13 e 14.
No ano 100 d.C. (séc. I d.C.), época em que se difundia o Novo Testamento com os
Evangelhos e as cartas dos Apóstolos que surgiam, (que os judeus não acreditavam nem
aceitavam) os Doutores da Sinagoga (rabinos judeus) realizaram um Sínodo (Conselho de Jâmnia)
na cidade de Jâmnia (ou Jabnes), perto de Jafa, na Palestina, para definir quais seriam os livros da
Bíblia (somente o Antigo Testamento em que eles acreditavam) e definiram como critério para
isso os seguintes itens como assevera o teólogo Felipe Aquino:

1. Deveria ter sido escrito na Terra Santa;
2. Escrito somente em hebraico, nem aramaico nem grego;
3. Escrito antes de Esdras (455-428 a.C.);
4. Sem Contradição com a Torá ou Lei de Moisés.
“Esses critérios eram racionalistas mais do que religiosos, fruto do retorno do exílio da
Babilônia. Por esses critérios não foram aceitos na Bíblia Judaica da Palestina os livros que
não constam na Bíblia protestante”. (Escola da Fé II – A Sagrada Escritura. Lorena -
SP. 2000, p.32)
“(...) foi - se formando (...) a opinião de que depois de Esdras (séc. IV a.C.) faltando ou
sendo incerto o dom profético (cf. I Mac 4,46;14,41) nem sequer admitiam pudessem ser
escritos livros inspirados por Deus. Por isso quando nos fins do séc. I d.C. os Doutores da
Sinagoga fixaram o cânon das sagradas escrituras, foram excluídos até os livros escritos em
hebraico depois daquela época, como o Eclesiástico. Daí resultou o cânon hebraico em que
faltam sete livros”. (Bíblia Sagrada. São Paulo.1982, p.8)


2


A definição do Cânon Bíblico para os cristãos partiu da autoridade apostólica da Igreja
Católica4, tanto para os livros do Velho Testamento, quanto para os livros do Novo Testamento,
como pode ser evidenciado histórica e teologicamente. No que diz respeito ao Antigo
Testamento, os Judeus nos legaram as duas versões acima descritas (Palestina e Alexandrina ou
dos LXX), e a Igreja após dirimir suas dúvidas através da análise teológica dos livros, juntamente
com o discernimento do Espírito Santo optou pelo Cânon completo da versão dos LXX
(Alexandrina).

“A palavra cânon é grega e significa literalmente uma regra ou medida, ou varinha direita.
No seu principal sentido metafórico de regra de fé aparece a palavra cânon no Novo
Testamento:“a todos quanto andarem nesta regra, paz e misericórdia sobre eles” (cf. Gal
6,16). Parece ter sido neste sentido na verdade muito apropriado que no quarto século a
palavra cânon principiou a ser aplicada às Escrituras, que continham a regra autorizada
pela qual deve ser moldada a vida do homem. Mas foi a Igreja5, que guiada por Deus formou
o Cânon, determinando depois de largos debates, que livros deveriam ter sido recebidos como
sagrados e quais deveriam ser rejeitados. A Igreja, pois é que primeiramente canonizou os
livros santos, que ficaram sendo canônicos, isto é, conforme o cânon à regra.”
(História, Doutrina e Interpretação da Bíblia. São Paulo.1951, p.6)

Os protestantes após a “reforma luterana” começaram a rejeitar os sete livros acima
citados, da versão dos LXX e em meados dos séculos XIX os retiraram de suas Bíblias, como
afirma o teólogo Felipe Aquino:

“Lutero, ao traduzir a Bíblia para o alemão, traduziu também os sete livros
(deuterocanônicos) na sua edição de 1534, e as Sociedades Bíblicas protestantes, até o século
XIX incluíam os sete livros nas edições da Bíblia” (Escola da Fé II – A Sagrada Escritura.
Lorena - SP. 2000, p.34)
“Os protestantes só admitem como livros sagrados os 39 livros do cânon hebreu (de Jâmnia).
O primeiro que negou a canonicidade dos sete deuterocanônicos foi Carlostadio (1520),
seguido de Lutero (1534) e depois Calcino (1540)”. (Como a Bíblia foi escrita. A.C.I.
Digital. 2004)


Historicamente se comprova que os primeiros cristãos utilizavam o Antigo Testamento
da versão dos LXX (Alexandrina), portanto com os sete livros rejeitados pelos judeus e
protestantes.


4
As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito nas Sagradas Escrituras e nesta se nos
oferecem, foram consignadas sob influxo do Espírito Santo. Pois a Santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica
tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as
suas partes, por que, escritos sob a inspiração do Espírito Santo (cf. Jo 20,31; II Tim 3,16; II Ped 1,19-21;
3,15-16), eles tem em Deus o seu autor e nesta sua qualidade foram confiados a Igreja. (Dei Verbum 11).
5
Trata-se da Igreja Católica Apostólica Romana. A primeira vez na História que aparece o termo “Igreja
Católica” foi em uma carta de Inácio de Antioquia (†110), à comunidade de Esmirna (atual Izmir, Turquia)
que dizia: "Onde está o Cristo Jesus está a Igreja Católica" (Carta aos Esmirnenses 8,2). Inácio foi o
terceiro bispo da comunidade de Antioquia, fundada por São Pedro. Conheceu pessoalmente São Paulo e
São João (evangelista). Foi preso e conduzido a Roma por ordem do imperador Trajano, sendo martirizado
no Coliseu, nos dentes dos leões. A caminho de Roma escreveu cartas às comunidades de Éfeso, Magnésia,
Filadélfia, Esmirna, Trales e ao bispo de Esmirna, São Policarpo. Na Enciclopédia Compacta de
Conhecimentos Gerais (da revista "Isto é"), página 259, tópico Igreja Católica, vemos a seguinte
afirmação: "Roma foi a única Igreja ocidental fundada por um apóstolo (São Pedro). Da Irlanda aos
Cárpatos, os cristão passaram a reconhecer o bispo de Roma como o Papa (do latim vulgar papa, "pai") e
usavam o latim nos serviços religiosos nas leituras das escrituras e na teologia (...)."


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“Tem – se dito que a Bíblia dos Apóstolos, aquela que habitualmente citam é a
septuagentina6, e que esta versão contém os livros apócrifos. Que eles usavam a versão dos
setenta não sofre dúvida”. (História, Doutrina e Interpretação da Bíblia. São Paulo.1951,
p.15)
“Os Apóstolos e Evangelistas optaram pela Bíblia completa dos Setenta (Alexandrina),
considerando canônicos os livros rejeitados em Jâmnia (ou Jabnes). Ao escreverem o Novo
Testamento usaram o Antigo Testamento, na forma da tradução grega de Alexandria, mesmo
quando esta era diferente do texto hebraico. O texto grego,“dos Setenta” tornou-se comum
entre os cristãos; e portanto o cânon completo, incluindo os sete livros e os fragmentos de Ester
e Daniel, passou para o uso dos cristãos”.(Escola da Fé II – A Sagrada Escritura. Lorena -
SP. 2000, p.32)

Quanto às dúvidas surgidas no seio da Igreja durante o processo de definição do Cânon

das sagradas escrituras, nota-se o debate teológico dos grandes Pais Apostólicos da Igreja e a
colaboração do Espírito Santo para a chegada em um consenso.


“Alguns Padres da Igreja denotam certas dúvidas nos seus escritos, por exemplo, Atanásio7
(373), Cirilo de Jerusalém8 (386), Gregório Nazianzeno9 (389), enquanto outros
mantiveram como inspirados também os deutero-canônicos, por exemplo, Basílio10 ( 379),
Santo Agostinho11 (430), Leão Magno12 (461). A partir do ano 393 diferentes concílios,
primeiro regionais e logo ecumênicos, foram fazendo precisões à lista dos Livros "canônicos"
para a Igreja”. (Como a Bíblia foi escrita. A.C.I. Digital. 2004).
“Outro fato importantíssimo é que nos mais antigos escritos dos santos Padres da Igreja
(Patrística) os livros rejeitados pelos protestantes (deuterocanônicos) são citados como Sagrada
Escritura. Assim, São Clemente de Roma13, o quarto Papa da Igreja, no ano de 95 escreveu
a Carta aos Coríntios, citando Judite, Sabedoria, fragmentos de Daniel, Tobias e Eclesiástico;
livros rejeitados pelos protestantes.Da mesma forma, o conhecido Pastor de Hermas14, no ano
140, faz amplo uso de Eclesiástico, e do II Macabeus; Santo Hipólito15 (†234), comenta o
Livro de Daniel com os fragmentos deuterocanônicos rejeitados pelos protestantes, e cita como

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Forma como também é conhecida a versão dos LXX (setenta).
7
S. Atanásio (295-373 d.C.), é considerado doutor da Igreja, nasceu em Alexandria, tornou-se diácono e junto
com o Bispo Alexandre destacou-se no Concílio de Nicéia (325 d.C.) combatendo o arianismo que negava a
divindade de Cristo.
8
É considerado doutor da Igreja, foi Bispo de Jerusalém, guardião da fé professada no concílio de Nicéia (325
d.C.), é autor da obra Catequeses Mistagógicas, esteve no concílio Ecumênico Constantinopla I (381 d.C.).Morreu
em 386 d.C.
9
É considerado Doutor da Igreja, nasceu em 329 d.C. em Naziano na Capadócia e morreu em 389 d.C. Lutou
contra o arianismo, sua doutrina sobre a Santíssima Trindade lhe rendeu o título de teólogo, confirmado no
Concílio de Calcedônia em 481 d.C.
10
É considerado Doutor da Igreja, nasceu em 330 d.C. e morreu em 369 d.C., foi Bispo.
11
Foi Bispo e Doutor da Igreja, nasceu em Tagaste na Tunísia, viveu de 354 d.C. a 430 d.C. , se converteu em
Milão, ouvindo as pregações do Bispo S. Ambrósio.Tornou-se Bispo de Hipona aos 42 anos de idade, combateu
o maniqueísmo, o donatismo e o pelagianismo, heresias do seu tempo.
12
Foi Papa (440 – 461 d.C) e Doutor da Igreja, viveu de 400 d.C. a 461 d.C. Deixou 96 sermões e 173 cartas,
participou do Concílio da Calcedônia combatendo o monofisismo.
13
Foi o terceiro sucessor de São Pedro, quarto Papa da Igreja (88 – 97 d.C.), nos tempos dos imperadores
romanos Domiciano e Trajano (92 – 102 d.C.). Segundo S. Irineu “ele viu os apóstolos e com eles conversou,
tendo ouvido diretamente a sua pregação e ensinamento” (Contra as heresias). (cf. Fil 4,3).
14
Era irmão do Papa São Pio I (140 – 155 d.C.). Escreveu a obra Pastor, de visão apocalíptica, morreu em 160
d.C.
15
S. Hipólito de Roma (160 – 234 d.C.), foi discípulo de S. Irineu (140 – 202 d.C.), foi célebre na Igreja de
Roma, sendo sua pregação ouvida por Orígenes (184 – 254 d.C.). Escreveu contra os hereges, compôs textos
litúrgicos e a obra Tradição Apostólica, em que relata os costumes da Igreja no século III.

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Sagrada Escritura Sabedoria, Baruc, Tobias, I e II Macabeus. Fica assim, muito claro, que
a Sagrada Tradição da Igreja e o Sagrado Magistério sempre confirmaram os livros
deuterocanônicos como inspirados pelo Espírito Santo. Vários Concílios confirmaram isto, os
Concílios regionais de Hipona (ano 393); Cartago II (397), Cartago IV (419), Trulos
(692). Principalmente os Concílios ecumênicos de Florença (1442), Trento (1546) e
Vaticano I (1870)”. (Escola da Fé II – A Sagrada Escritura. Lorena - SP. 2000, p.33)


Os livros rejeitados pelos protestantes são por eles chamados de apócrifos, os católicos
não adotam este termo para tratar os referidos sete livros, considerando-os deuterocanônicos, ou
seja, aqueles livros que do século II d.C. ao século IV d.C. a Igreja não tinha ainda ratificado a sua
canonicidade e eram motivo de estudo e discernimento do Sagrado Magistério da Igreja16.

“Chegou-se a fazer distinção entre “livros reconhecidos” (homologúmenos), admitidos por todos
(os do cânon hebraico) e “livros controversos” (antilogúmenos), não admitidos por todos (...) os
primeiros se chamam protocanônicos e os segundos deuterocanônicos, ou seja, canônicos de
primeira e segunda época. Compreende-se que os hebreus rejeitem, em sua totalidade o Novo
Testamento, alem dos deuterocanônicos do Antigo. Os protestantes ocupam uma posição de
meio termo. No novo testamento depois das primeiras incertezas de seus fundadores admitiram
integralmente e sem distinção o Cânon Católico. No Antigo Testamento, ao invés, seguindo o
cânon mais restrito dos hebreus, rejeitam como fora da série dos livros sagrados, sob o nome de
“apócrifos”, os que nós chamamos deuterocanônicos.” (Bíblia Sagrada. São Paulo. 1982,
p.8)

Para se chegar ao Novo Testamento que temos, a Igreja Católica teve de rejeitar
diversos livros que não eram inspirados por Deus, e através de sua autoridade apostólica17 definir o
Cânon das Escrituras.Os livros abaixo citados são os que os católicos consideram apócrifos, ou
seja, livros não revelados pelo Espírito Santo e que muitas vezes continham heresias, a Igreja os
considera importante para o estudo, visto que alguns deles podem conter verdades
históricas.Através da quantidade de livros observa-se como a Igreja teve de ser criteriosa,
inspirada e dirigida pelo Espírito Santo, para retirar o joio do meio do trigo. Sem a autoridade da
Igreja não teríamos como saber quais seriam os livros divinamente inspirados por Deus para a
composição da Revelação Escrita – As Sagradas Escrituras.


16 Advém da Sucessão Apostólica. É formado pelo Papa (sucessor de Pedro) e Bispos (sucessor dos Apóstolos),
com a missão de conservar o “depósito da fé” (I Tim.1,10; Luc.10,26;), ensinando a verdade extraída da
Sagrada Escritura e da Sagrada Tradição Apostólica.
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Em sua extrema benignidade, Deus tomou providencias a fim de que aquilo que Ele revelara para a salvação
de todos os povos se conservasse inalterado para sempre e fosse transmitido a todas as gerações (...). Mas
para que o Evangelho sempre se conservasse vivo e inalterado na Igreja, os Apóstolos deixaram como
sucessores os Bispos, a eles “transmitindo o seu próprio encargo do Magistério” (S. Irineu in: Adv. Haer., III,
3,1). Portanto, esta Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura de ambos os testamentos são como o espelho em
que a Igreja peregrina na terra contempla a Deus de Quem tudo recebe, até que chegue a vê-lo face a face
como é ( cf. I Jo 3,2).(Dei Verbum, 7). O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante
dessa tradição, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da Igreja que crê e ora. Pela mesma Tradição
torna-se conhecido à Igreja o Cânon completo dos livros sagrados (...). E assim o Deus, que outrora falou,
mantém um permanente diálogo com a esposa de seu dileto Filho, e o Espírito Santo, pelo qual a voz viva do
evangelho ressoa na Igreja e através da Igreja no mundo, leva os fieis à verdade toda e faz habitar neles
abundantemente a palavra de Cristo (cf. Col 3,16). (Dei Verbum, 8).


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