Pesquisar este blog

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Desmistificando o caso Galileu.


Depois de muito ouvir lendas a respeito de Galileu, inclusive de pessoas que considero(ava) cultas, resolvi escrever algumas linhas sobre o assunto.
Com os anos , muitas lendas foram criadas em torno desta fato. Muitas com o intuito de criar uma imagem desfigurada da igreja. Uma imagem de retrógrada, anticientífica e impositora.

Não sou o tipo de pessoa que gosta de estragar as fantasias alheias, por exemplo, dizendo para uma criança que o Papai-Noel não existe (Existiu. e se chamou São Nicolau) ou que o coelhinho da páscoa é apenas um apelo comercial para vender ovos (como se coelhos colocassem ovos). Não! porém, neste caso a verdade deve prevalecer.

Preparem-se para o inacreditável.

-Galileu Galilei não morreu na fogueira!
-O que? Não acredita?
Galileu Galilei Morreu de causas naturais em 08/01/1642 em sua casa em Florença. Sua sentença foi proclamada pela Santa Inquisição em 22/06/1633, contudo publicou um trabalho intitulado “Diálogo das duas novas ciências” em 1638 (a menos que tenha, Chico Xavier, psicografado a livro em questão).

É interessante ressaltar também que a Igreja não era contra o sistema de Copérnico, de onde Galileu tirou a base de seu modelo. Não acredita?
A Igreja se baseou no modelo de Copérnico para modificar seu calendário litúrgico. E essa obra foi dedicado por Copérnico ao Papa Paulo III, que o recebeu de muito bom grado, dando a ordem que resultou nas modificações do calendário.

Mitos esclarecidos, vamos aos fatos.

Galileu não era uma pessoa muito fácil de lidar. Tinha um temperamento muito forte e defendia suas idéias, a respeito do heliocentrismo, com desproporcional vigor, dado as poucas e inconclusivas provas que tinha, como afirma a Enciclopédia Mirador Internacional (verbete Galileu)
Descreve ela que Galileu era “de um estilo de grande vivacidade, freqüentemente irônico e mordaz, pois era um temperamento polêmico”. Eis exemplos (de outras fontes, citadas neste trabalho) de seu estilo de argumentar, nada científico: recorria aos vocábulos “idiotas, bufos, hipócritas, impostores, ignorantes, estúpidos, animais”.
(Fonte: Dom Estêvão Bettencourt e Prof. Dr. Joaquim Blessmann , site Cleofas e Enciclopédia Mirador Internacional).

Por esta razão , muitos dos diálogos propostos entre a igreja e vários acadêmicos com Galileu não surtiram efeitos.

Mas qual foi o problema entre a Igreja e Galileu, se a Igreja já conhecia a teoria em questão, e cujo seu aperfeiçoador (Nicolau Copérnico), que era Cônego da igreja, estudava a própria astronomia no berço do catolicismo, em meio aos jesuítas , que provavelmente contribuíram para a formulação de sua teoria?

O problema ocorrido não foi entre Religião e ciência, mas sim no campo teólogo-filosófico.

Entendamos o porque.

Galileu defendia o modelo heliocêntrico (desenvolvido por Aristarco e aperfeiçoado por Copérnico) , mas não possuía provas incontestáveis para sustenta-lo. Mesmo assim queria que a Igreja alterasse textos bíblicos baseando-se em suas afirmações. Isso mesmo! Alteração da exegeses católica e afirmações que o seu modelo era fato verdadeiro.

Galileu não tratava seu modelo como uma teoria. Ele estava certo que o que pensara era correto.
Ele afirmava que a terra não estava imóvel no universo, teoria aceita até então, mas que ela girava entorno do Sol juntamente com a lua e os outros planetas descobertos até o momento. Toda via, ele também afirmava que o Sol era imóvel no universo (hoje sabemos que isso não procede). Esse pensamento também despertou interesse dos heréticos que achavam que o Sol era o deus do universo.

Pensar isso é "fácil", mas provar é outra história.
As provas que Galileu tinha como mais concretas eram as da maré que, segundo ele, era um fenômeno gerado pelo movimento de rotação da terra, responsável pelos dias e as noites (sabemos hoje que as marés são fenômenos causados pela força de atração gravitacional da Lua e do Sol sobre a Terra) e a dos ventos alísios, mas não conseguiu quantificar(explicar) o fenômeno. ele também havia observado Júpiter e percebido que este também apresentava fases, concluindo com isso que ele também girava entorno do sol.

Contudo, Galileu não conseguia refutar as teorias contrapostas que defendiam o geocentrismo.
Uma delas ia de encontro justamente a uma de suas provas-chave.

Esta teoria em particular falava a respeito do movimento de rotação, logicamente necessário caso fosse a terra realmente girasse e não o sol. Quantificando esta teoria, que diga-se de passagem, ainda que errada empiricamente é bem intrigante para as pessoas com o conhecimento da época, chegou-se a dados absurdos.

Abaixo fontes da site Cleofas
(Ainda o "Caso Galileu"/ Dom Estêvão Bettencourt e Prof. Dr. Joaquim Blessmann.)

"
Por outro lado, havia argumentos de peso contra ela (Teoria de Galileu), baseados nos conhecimentos e no “bom senso” da época, proveniente da observação de fenômenos naturais. O argumento de maior importância (creio que muitas pessoas, mesmo nos tempos atuais, não sabem como o refutar) é o seguinte:

Se a Terra gira em torno do Sol(traslação), é necessário que também gire em torno de si(rotação), para produzir o dia e a noite. Se ela gira em torno de si, deve haver um movimento relativo terra-ar e, portanto, para quem está parado na superfície da Terra, um vento com a mesma velocidade. Se estou andando a cavalo, pensavam, quanto mais rápido andar o cavalo, mais veloz o vento que sentirei, devido ao movimento relativo cavalo-ar. Se estou parado, não sobre o cavalo, mas sim na superfície da Terra, e ela está “correndo” em sua rotação, deverei sentir um vento correspondente. E qual a velocidade deste vento? Os gregos já tinham feito o cálculo. Mais precisamente, Eratóstenes, medindo a diferença de latitude entre Siena (atualmente, Assuan) e Alexandria, e medindo a distância entre estas duas cidades, determinou a circunferência da Terra, no Equador. Foi concluído que, se a Terra girasse sobre si mesma(Note que nesta época já se imaginava que a terra girava entorno de si mesmo, logo, também em torno do Sol), a velocidade no Equador seria de cerca de 400 m/s (1.440 km/h). E esta seria a velocidade do vento causado pela rotação da terra, velocidade essa suficiente para destruir florestas, veículos, construções, etc. (Na realidade, a velocidade é ainda maior: 1.670 km/h.) Este vento não existe. Logo: a Terra não pode ter o movimento de rotação requerido pelo sistema heliocêntrico para formar dias e noites."

(OBS.: Grifo meu.)

Desta forma galileu não conseguia provar suas afirmações e passou a tentar prova-las através dos textos bíblicos para responder a uma obra do teólogo Ludovico delle Colombe, que se intitulava “Contro il moto della terra” (Contra o movimento da Terra).

É bem verdade que um teólogo não deveria se meter em matérias Científicas, mas ao invés de tentar provar por meio científicos o que pensava , Galileu tenta responder também com argumentos teológicos.

Veja alguns argumentos teológicos usados por Ludivico para defender o geocentrismo:

Salmo 103,5 – “Fundaste a terra em bases sólidas, que são eternamente inabaláveis”; Eclesiastes 1, 4-5 – “Uma geração passa, outra vem; mas a Terra sempre subsiste. O sol se levanta, o sol se põe; apressa-se a voltar ao seu lugar”.
(Ainda o "Caso Galileu"/ Dom Estêvão Bettencourt e Prof. Dr. Joaquim Blessmann.)

Exemplo da arguição em resposta, de Galileu:

Salmo 95,9 – “Diante d’Ele estremece a terra inteira”.

Ambos, com uma exegese equivocada, estavam viajando na "maionese", mas, como já dito acima, Galileu era de um temperamento muito difícil e começou a extrapolar.
Exigia ele, que as interpretações bíblicas fossem alteradas para adequar-las a seu modelo(Aplicaria-se muito bem aqui o velho ditado popular: "Cada Macaco no seu galho.").

E era realmente muito difícil para a época aceitar o modelo de Galileu, não só para a Igreja, mas para muitos acadêmicos. O fato de Galileu começar a utilizar teologia para explicar seu modelo só serviu para inflar sua incredibilidade frente aos seus contemporâneos. Veja:

"E assim a disputa, que deveria ser de caráter científico, passou para a exegese e a teologia. Os debates se multiplicaram. O beneditino Castelli, professor na Universidade de Pisa, defendia a opinião de Galileu. Este escreveu diversas cartas, dirigidas, entre outros, ao próprio Castelli, a Clavius
(Matemático Jesuíta) e ao Cardeal Belarmino, defendendo-se. Da carta a Castelli transcrevemos um trecho, pela posição correta assumida por Galileu, no que diz respeito à interpretação da Bíblia(Posição correta, as defendida de maneira incorreta) (Ref. 2, pág. 111):

“A Escritura não se engana, mas sim os seus intérpretes e comentadores, de várias maneiras, entre as quais uma gravíssima e freqüentíssima, quando querem fixar-se sempre no puro sentido literal, pois assim aparecerão não só diversas contradições, mas também graves erros e heresias; seria necessário dar a Deus pés e mãos, e olhos, e também coisas corpóreas e humanas, como cólera, arrependimento, ódio, esquecimento do passado e ignorância do futuro. Donde, assim como na Escritura se encontram muitas proposições falsas quanto ao sentido nu das palavras, mas assim postas para se acomodarem ao numeroso vulgo, assim ... é necessário que os sábios comentadores apresentem o verdadeiro sentido.”

O dominicano Lorino enviou à Sagrada Congregação do Index (Inquisição Romana) uma cópia dessa carta, que tinha sido difundida por meio de cópias.
A carta foi examinada, qualificada favoravelmente e o caso encerrado.

Entretanto,
Galileu insistia em debater no terreno exegético-escriturístico, abandonando as razões científicas do sistema astronômico que defendia. Queria forçar uma decisão urgente da Sagrada Congregação para que certas passagens da Escritura fossem interpretadas de modo diferente do usual havia séculos.

Foi advertido para que deixasse o lado teológico da questão e usasse apenas argumentos das ciências naturais para justificar o sistema heliocêntrico."

Foscarini (Carmelita, Provincial da Calábria) publicada em 1615 obra em que defende a opinião de Copérnico.

O Cardeal Belarmino recomenda prudência a Galileu e a Foscarini: que não apresentassem o sistema heliocêntrico como verdade definitiva (o que não existe na ciência; nesta, nada é definitivo) e que não forçassem reinterpretações da Sagrada Escritura, enquanto não houvesse provas demonstrativas do novo sistema. Eis trechos de sua carta (Ref. 2, pág. 163 a 165):

“Uma coisa é sustentar o movimento da Terra e a estabilidade do Sol como hipótese, e isso está muito bem dito e não tem perigo algum ..., e é tudo quanto deveria bastar ao matemático.”

E mais adiante, na mesma carta:

“Quando fosse verdadeiramente demonstrado que o Sol está no centro do mundo e a Terra no terceiro céu, e que o Sol não circunda a Terra, mas sim a Terra circunda o Sol, então seria necessário com muitas considerações, pelo contrário, que são coisas que não podemos entender. Por mim, não acreditarei que seja possível tal demonstração, até que me seja apresentada.”


(Ainda o "Caso Galileu"/ Dom Estêvão Bettencourt e Prof. Dr. Joaquim Blessmann.)
(OBS.: Grifo meu.)

Desta forma, por diversas vezes, Galileu foi advertido a deixar as questões teológicas e focar somente no que é o seu campo, a astronomia.

Por esta razão Galileu foi levado ao tribunal da inquisição.
Em audiência particular, o Cardeal Belarmino encarrega-se de convencer a Galileu de abandonar seu modelo, mas este se recusa. Então é dada uma "sentença", diante do comissário da inquisição e de outras testemunhas, de que Galileu não sustente ou ensine seu modelo. Ele concorda.

O que provocou, depois de tanto tempo, sua proibição, foi a atitude de Galileu, querendo impor como certa, verdadeira, uma teoria para a qual não tinha provas objetivas. Pelo contrário, insistia em uma prova falsa, a das marés. E jamais ele ou outro contemporâneo conseguiu explicar o paradoxo do vento de 1.440 km/h, na linha do Equador, que “deveria” existir em virtude da rotação da Terra. Galileu, lançado mão de razões exegéticas e insistindo em uma reinterpretação da Bíblia, acabou forçando uma decisão imatura e lamentável da Sagrada Congregação do Index.

É de destacar que, em 11/03/1616, Paulo V recebeu Galileu em audiência particular. Considera-o um verdadeiro filho da Igreja e reconhece a retidão das intenções de Galileu, dizendo-lhe que nada temesse de seus caluniadores.
(Ainda o "Caso Galileu"/ Dom Estêvão Bettencourt e Prof. Dr. Joaquim Blessmann.)

O que resultou na real condenação de Galileu, condenação essa que não passou de 3 anos de prisão domiciliar, sendo servido em tudo pelos jesuítas, foi o fato da reincidência, desobediência e má fé de Galileu na publicação de seu livro “Diálogo sobre os dois Sistemas Máximos de Mundo, o Ptolomaico e o Copernicano” de 1631.

Esta publicação deveria ser revisada pelo Index, para que nele não houvesse os problemas do caso anterior. Em meados de 1624 e 1630 Galileu comunica ao Papa Urbano VIII que pretendia publicar o livro. O Papa apóia Galileu, mas o aconselha a não escrever sobre o modelo de Copérnico como verdade e sim como teoria e que seus escritos não tivesse nada que fosse de encontro com o Santo ofício.

Em 1630 Galileu viaja a roma para conseguir a aprovação(Imprimatur) de seu livro. É encarregado para o exame do livro um padre chamado Riccardi, que era amigo de Galileu.

Padre Riccardi recomendou algumas mudanças. Nas que se destacam estão a mudança do nome do livro “Diálogo sobre as marés” para o nome dito acima, a do prefácio e algumas situações, para que o modelo copernicano não fosse tratado como verdade, mas sim como hipótese.

Galileu comprometeu-se a faze-lo, decidindo imprimir seu livro em Florença. Pe. Riccardi foi a favor, mas com a condição de que Galileu trouxesse o primeiro exemplar para que ele aprovasse.
Depois de muitas desculpas, Galileu pede ao Padre que enviar apenas o Prefácio e o título, e Padre Riccardi consente.

Em florença Galileu consegue que um amigo seu seja seu novo revisor. Stefani, como se chamava, foi induzido por Galileu a achar que Roma já havia aprovado toda a obra, então concede o Imprimatur. O título e o prefácio seguem para o Pe. Riccardi como combinado.

Em 1631 chega as mãos de Pe. Riccardi a obra completa, já publicada. Eis que ele nota que somente o título e o prefácio foram alterados, mas todo o conteúdo continua afirmando que o sistema heliocentrico é uma verdade. Então ele encaminha a obra a Roma.

Pelo seu temperamento, Galileu já havia ganho muitos inimigos. Pressionado por estes, o Papa Urbano VIII considera o fato como desobediência e o encaminha a inquisição.

Galileu, chamado a Roma para julgamento, depois de vários adiamentos (doença, velhice, peste, inundações, foram os motivos alegados), lá chega em 12/02/1633. Hospedou-se inicialmente no palácio do Embaixador de Florença; depois passou a residir no edifício da Inquisição, em aposentos do Fiscal da Inquisição, “cômodos e abertos” (nada de aprisionamento em masmorras, “a pão e água”, como diz uma das lendas).

Foi submetido a quatro interrogatórios:

- No primeiro negou que houvesse defendido o sistema heliocêntrico em seu livro.

- No segundo declarou que, relendo o livro, reparara que em alguns trechos o leitor podia realmente pensar que ele defendia tal sistema.

- No terceiro desculpou-se por desobedecer à proibição de 1616, afirmando que a advertência tinha sido verbal e que não se recordava de uma ordem para ele em particular.

- No quarto e último interrogatório (em 21/06/1633), quando lhe perguntaram solenemente se defendia o sistema copernicano, respondeu negativamente.

No dia seguinte, em Decreto do Santo Ofício, é publicada a sentença, na qual consta:” ... é absolvido da suspeição de heresia, desde que abjure, maldiga e deteste ditos erros e heresias ...”. Galileu ouviu de pé e com a cabeça descoberta a leitura de sua condenação (três anos de prisão; recitação semanal dos sete salmos penitenciais, por três anos). Depois, de joelhos e com uma mão sobre os Evangelhos, assinou um ato de abjuração, no qual declarava que era “justamente suspeito de heresia”.

(Ainda o "Caso Galileu"/ Dom Estêvão Bettencourt e Prof. Dr. Joaquim Blessmann.)

Depois da sentença , Galileu passa a morar no palácio do embaixador de Florença e pouco depois é transferido para a casa do Arcebispo Piccolomini. Foi-lhe permitido, em 1633 (cinco meses depois do princípio do cumprimento da sentença) retornar a sua casa cumprindo prisão domiciliar.

Acho que com isso acaba a estória de que Galileu foi queimado e torturado.

Fonte: www.cleofas.com.br (Ainda o "Caso Galileu"/ Dom Estêvão Bettencourt e Prof. Dr. Joaquim Blessmann.)

0 comentários:

Postar um comentário

Muito obrigado pela sua participação. Deus te abençoe e te guarde, que ele volva a sua face e se compadeça de ti. Amém.